sexta-feira, 3 de maio de 2013


Alimentação ConscienteComo aliar o sabor à saúde 


O alimento, embora seja uma necessidade básica, responsável pela saúde e bem estar dos indivíduos, passou a ser visto, nas sociedades modernas, como um objeto de desejo e, portanto, de consumo, sendo exibido e admirado nas vitrines das lojas de conveniência, supermercados, shopping centers e demais locais comerciais de grandes centros urbanos como uma mera mercadoria.
Todo um aparato em termos de decoração de ambiente e ornamentação de pratos é preparado para fazer o consumidor “morder a isca”, tornando apetitosos e irresistíveis os alimentos ofertados através da criação de uma enorme variedade de sabores, cores e aromas artificiais, e apresentando-os em recipientes ou embalagens não menos atraentes.
A meta da ideologia econômica subjacente a esse mercado é exclusivamente o lucro, em detrimento da saúde do consumidor, o qual é induzido por todos os meios e, principalmente, pela publicidade, a comer sem refletir.
A conseqüência imediata do hábito de ingerir produtos não balanceados, que pecam pelo excesso de calorias, de gorduras, de sal, de açúcar, de produtos químicos e de toxinas (como é o caso da carne animal) é a afetação do paladar e do olfato, os quais se tornam paulatinamente viciados em alimentos nocivos. E a conseqüência a longo prazo é um acúmulo de doenças que fazem o corpo padecer e privam de alegria o espírito.

“Comer é tomar conta de si e se fazer bem. É apenas o caráter repetitivo desse gesto e o hábito que se engendra a partir dessa repetição que nos fazem perder de vista a dimensão extraordinária dessa experiência diária.” (Dufour)  
O ato de comer exige senso de responsabilidade principalmente pelos efeitos que produz, a curto e longo prazo, na saúde física, mental e espiritual. Ocorre, porém, que até hoje o homem ainda não se encontra devidamente preparado para alimentar-se corretamente, uma vez que, da infância à idade adulta, tem ficado desprovido de orientação a respeito do assunto, não a recebendo nem da família, que repete os erros dos antepassados ou adere aos modismos da época, nem da escola, que a considera alheia aos seus objetivos. Ao contrário, depara-se com todo um ambiente propício a deseducá-lo em relação à alimentação, principalmente porque as finalidades exclusivamente lucrativas na venda dos produtos alimentícios em sociedade acabaram por distorcer o sentido e a seriedade do ato de comer. E, assim, ele acaba chegando à idade adulta habituado a ingerir produtos desequilibrados e nocivos ao seu organismo. O objetivo de fazer bem a si mesmo, ou ainda, cuidar de si a que se refere o nutricionista Dufour parece, com efeito, não ter nenhuma importância para o homem da sociedade contemporânea.
Na verdade, nunca os alimentos estiveram tão regulados pela estratégia de acumulação e internacionalização de capital como neste final de milênio. A facilidade de industrialização e a busca pela maximização do lucro deteriorou a qualidade dos produtos alimentícios, criando um artificialismo que é respaldado pelo aperfeiçoamento das técnicas de conservação (tanto através de produtos químicos como de ‘beneficiamentos’) e  pela moderna biotecnologia, com a criação de aditivos que lhe alteram a cor, o sabor e o aroma.
Uma verdadeira invasão de anúncios publicitários veiculados tanto pela imprensa como por via radiofônica e televisiva incitam o consumidor a comer de forma inconsciente: “Não pense duas vezes!”, “Você não vai resistir!”, “Impossível comer um só!”. E os efeitos de tal repetição, juntamente com o aspecto “irresistível” dos alimentos, transformados em objeto de desejo na nossa sociedade consumista, não dão chance de escolha à grande maioria das pessoas. Some-se a isso o fato de que, num sistema em que o tempo para as mulheres cozinhar tornou-se escasso (na medida em que elas têm uma jornada de trabalho fora de casa tão extensa quanto a do homem), o ato de comprar alimentos prontos (sobretudo os congelados) e semi-prontos tornou-se um hábito, e o de comer fora de casa, quase um hobby, atitudes essas que certamente implicam colocar a saúde em segundo lugar.
Diante de objetivos exclusivamente comerciais por parte de frigoríficos, indústrias alimentícias, redes de fast food internacionais e de empresários de todos os níveis envolvidos na venda e prestação de serviços referentes a alimentos; e diante de toda uma cadeia publicitária que visa “fechar o cerco” ao consumidor, podemos afirmar que não se encontram, em parte alguma, sinais de interesse em educar o homem, nem em relação à qualidade nem à quantidade daquilo que ingere. Na realidade, a sociedade contemporânea carece dessas duas orientações. Mesmo os livros e manuais de dietas, que costumam arrolar os erros cometidos em termos de alimentação, não enfatizam dois deles que são fundamentais, a saber, a supervalorização do sabor e da aparência dos alimentos (em detrimento de seu valor nutritivo), e o consumo exagerado destes, os quais estão relacionados, respectivamente, com as duas mencionadas instruções. Assim, priorizar os alimentos saudáveis, não se deixando enganar pelas aparências, e comer só o suficiente são, infelizmente, práticas inexistentes na nossa sociedade de consumo, embora exista um Ministério específico para orientar as pessoas a esse respeito, que se autodenomina “da Saúde”. No entanto, este, pelo que tudo indica, está bem mais ocupado em compartilhar dos interesses do governo no sentido de lucrar com as vendas de cigarro e bebidas alcoólicas do que em zelar pela saúde da população.
Conseqüências da
alimentação inconsciente
Como a ingestão de alimentos não saudáveis inevitavelmente prejudica o organismo, as pessoas, através de uma alimentação equivocada, acabam facilitando o surgimento de uma série de doenças, como as cardiopatias coronarianas e algumas formas de câncer (principalmente o do esôfago, do cólon, da próstata e do seio), que normalmente resultam de uma alimentação com excesso de  gordura e escassez de determinadas vitaminas presentes nas frutas e nos vegetais. Essa alimentação deficiente propicia ainda o surgimento da hipertensão, que é estimulada pelo excesso de sal, bem como de outros problemas, como é o caso das cáries dentárias, que são produzidas basicamente por um tipo de padrão alimentar caracterizado pelo excesso de açúcar.
Além disso, o hábito de ingerir mais calorias do que o necessário para a manutenção do organismo pode produzir obesidade e aumentar o risco de várias doenças crônicas, inclusive da diabetes mellitus não insulino-dependente, um tipo de diabetes que, em geral, não exige injeções diárias de insulina, mas traz muitas complicações e costuma manifestar-se depois dos quarenta  anos de idade. Aliás, o consumo de gorduras, que desde as pré-civilizações fora de 15 a 20% do peso total dos alimentos, passou a ser de 40% na sociedade contemporânea, o que constitui um índice alarmante e ameaçador à saúde, principalmente porque a quantia elevada das mesmas no organismo ocasiona o aumento do colesterol, que, ao ultrapassar a barreira dos 200 mg/dl, propicia o surgimento de graves problemas cardiovasculares.
Em termos numéricos, a incidência da obesidade estimada para países desenvolvidos é de 30% para os homens e 40% para as mulheres. Sabe-se atualmente, graças a informações fornecidas pela Associação Americana de Bulimia e Anorexia, que estas duas patologias classificadas como transtornos ou desordens alimentares (que decorrem, respectivamente, da ingestão exagerada de alimentos e da abstinência quase absoluta dos mesmos por falta de apetite) atacam um milhão de norte-americanos por ano e que 150.000 mil mulheres morrem de anorexia anualmente, número superior ao das mortes causadas por AIDS até o ano de 1988. Tais índices acusam a deseducação das pessoas em relação ao seu regime alimentar, revelando que o equilíbrio, nesse âmbito, ainda não foi alcançado. Também foi registrada uma grande inversão de valores em relação às preferências alimentares a partir da II Guerra Mundial, uma vez que houve um aumento de 80% no consumo de refrigerantes e de 70% no de salgadinhos industrializados (chips), paralelamente a uma diminuição de 25% no consumo de frutas, legumes, vegetais e  derivados de leite.
Antes prevenir do que remediar
A  modificação de hábitos alimentares arraigados, errôneos e nocivos exige do indivíduo uma corajosa decisão e, sobretudo, motivação. Infelizmente, muitos só tomam tal decisão quando o organismo já se encontra depauperado e suas reservas de energia vital quase esgotadas. Mas o ideal é que tal mudança seja efetuada a tempo de evitar as doenças que podem decorrer de descuidos com a alimentação. Nesse sentido, convém aqui lembrar a sabedoria do velho adágio que diz: é melhor prevenir do que remediar.
Desde sempre, a melhor linha da medicina tem sido a preventiva, embora relegada até pelos especialistas da saúde. Os próprios cursos universitários de Medicina não se ocuparam ainda de formar profissionais nessa área, restringindo-se ao estudo dos sintomas e curas das patologias, mesmo porque a existência oficial de tal linha no âmbito médico certamente exigiria rever uma série de questões já cristalizadas por um sistema que, até o momento, só estimulou, sob todas as formas, as pessoas a se envenenarem paulatinamente. O governo, por exemplo, certamente não teria interesse algum em reverter esse quadro, mesmo que houvesse uma mobilização geral nesse sentido por parte da classe médica, dado que o álcool e o tabaco, que são as principais causas do surgimento de câncer, doenças pulmonares, gástricas e cardíacas, são produtos geradores de polpudos lucros para seus cofres. E os laboratórios internacionais, que incentivam as pessoas, por meio publicitário, a ingerirem cada vez mais medicamentos, e que obtêm lucros milionários com a venda dos mesmos, tampouco teriam interesse na realização de uma campanha preventiva.
  Mas embora a linha preventiva da medicina nâo seja nteressante para o sistema político atual, ela é a única capaz de livrar o homem do desgaste precoce do seu corpo e do dispêndio desnecessário tanto de tempo como de dinheiro, contribuindo, assim, para a sua longevidade e para a melhoria de sua qualidade de vida durante a velhice. E como o organismo humano, a partir dos quarenta anos, já começa a apresentar os resultados do tratamento que lhe foi dispensado até então, o ideal é começar a cuidar do corpo desde a infância, ou, pelo menos, a partir da juventude, e manter para sempre tais cuidados.
  Adotar a linha preventiva exige  uma certa dose de iniciativa, mas não requer grandes sacrifícios. Demanda apenas mudança de hábitos. E, convenhamos, se uma pessoa consegue habituar-se a agir da forma errada, ela pode perfeitamente adquirir o hábito de agir de forma correta. Afinal, o hábito não é a segunda natureza do homem?
A saúde integral
Embora a atenção no que se refere à alimentação seja fundamental à conquista da saúde, ela deve ser acompanhada de outros cuidados também importantes a fim de que o organismo como um todo possa ser beneficiado. De nada adiantará uma pessoa ter cuidado com o que come se, por exemplo, ela fumar, ingerir bebidas alcoólicas ou consumir regularmente outros tipos de drogas.
Além disso, os efeitos dos descuidos em relação ao nosso corpo nunca são apenas físicos: eles atingem também o plano mental e o espiritual, porque o homem é uma unidade e esses três planos que o compõem estão interligados, de maneira que qualquer desvio num deles acaba comprometendo os outros.
Todo aquele que se entrega aos vícios fica automaticamente impossibilitado de adquirir equilíbrio, e, quando isso acontece, a irritação, a agressividade e os impulsos em geral ficam muito difíceis de serem controlados, o que leva a pessoa, na maioria das vezes, a ocasionar uma série de conflitos no meio em que vive. Portanto, é preciso manter o corpo sempre sadio para que o espírito possa mais facilmente ter a mente sob controle. Só assim é possível alcançar o equilíbrio e aproximar-se cada vez mais da saúde integral. 
Os 12 mandamentos da
alimentação consciente
 1º) Prefira sempre preparar o seu próprio alimento a comer fora de casa. Evite, principalmente, locais nos quais desconheça a proveniência dos alimentos e os cuidados dispensados ao mesmo. Aprenda, aos poucos, a cozinhar, descobrindo a satisfação e a alegria de preparar novos pratos a cada dia. 
2º) Opte, paulatinamente, pelos alimentos integrais. Procure substituir, aos poucos, os alimentos refinados, processados industrialmente (como o arroz, a farinha de trigo e o açúcar brancos) pelos integrais. Os grãos têm, em grande quantidade, elementos e nutrientes riquíssimos que estão na película que os reveste: proteínas, vitaminas A, B¹, B², B6, B12 e minerais. Quando, no processo de refinamento e branqueamento, essa película é retirada, a maioria desses componentes se perde. Quanto ao açúcar mascavo, é rico em ferro. Nunca é demais relembrarmos as duas grandes máximas de Hipócrates, o grande médico da Grécia clássica: “Somos o que comemos” e “Faze do teu alimento o teu medicamento; e do teu medicamento o teu alimento”, as quais nos incitam ao consumo de um alimento mais puro e mais saudável. 
3º) Procure utilizar, em suas refeições, uma grande variedade de alimentos para enriquecer o seu organismo de vitaminas e nutrientes diferentes. Evite comer sempre os mesmos pratos, variando o cardápio. Não se esqueça de usar lentilha, grão-de-bico, feijão branco, feijão azuki, trigo em grão, raiz de lótus, raiz de bardana, soja em grão, espinafre, chicória, alcachofra, brócolis, acelga, couve-flor, repolho, aipo, milho, quiabo, almeirão e outros deliciosos produtos da natureza. 
4º) Substitua a carne animal pela vegetal. Essa é a troca mais importante a ser feita em sua alimentação. Aprenda a cozinhar com glúten e soja texturizada, que substituem com vantagens a carne animal, e se sentirá mais leve e mais lúcido.
Procure também informar-se com especialistas da área, médicos, nutricionistas ou através de publicações sobre o assunto como mudar de regime de forma não traumática. 
5º) Agradeça a Deus pelo alimento antes de comê-lo. A atitude de agradecer antes de dar início às refeições e de meditar sobre o esforço das centenas de pessoas envolvidas na produção, distribuição e comercialização dos alimentos, e, ainda, de lembrar a situação dos milhares de seres no mundo que se vêem privados de comida já é um grande passo na conquista de uma maior compreensão do significado real da prática de se alimentar.
6º) Não coma lendo, discutindo ou pensando em problemas. Coma saboreando o alimento, prestando atenção ao que está fazendo. O ato de comer é suficientemente importante para ser praticado com respeito e dedicação exclusiva de sua parte. 
7º) Não coma rápido. O processamento ideal do bolo alimentar requer um tempo de mastigação satisfatório. Quando esse tempo é diminuído, diminui-se também o tempo de saúde do sistema gástrico. Os antigos já diziam que devemos mastigar os sólidos até transformá-los em líqüidos e saborear os líqüidos como se fossem sólidos. 
8º) Só coma quando tiver fome.  Recuse-se a comer quando o seu organismo não tiver ainda dado o respectivo alarme. Comer sem fome é o primeiro passo para o desequilíbrio do corpo, uma forma de dar início ao excesso de calorias e ao descontrole.
9º) Não coma entre as refeições. Estabeleça horários para se alimentar e procure não ficar “beliscando” entre as refeições, para propiciar ao seu organismo um melhor aproveitamento dos alimentos ingeridos. Em intervalos muito longos entre as refeições, pode-se ingerir frutas.
10º) Acostume-se ao sabor de refeições balanceadas, sem excesso de sal, acúçar, produtos químicos, gorduras, temperos ou toxinas. O excesso de sal predispõe o organismo ao desequilíbrio da pressão arterial. O açúcar vicia o paladar e tende a coibir o gosto pelas frutas. Os alimentos com produtos químicos (conservantes, corantes, aromatizantes) e/ou toxinas (como é o caso da carne animal) predispõem o organismo ao câncer. E os que pecam pelo excesso de gordura, às doenças cardíacas. 
11º) Não coma demais. Estabeleça uma medida condizente com a sua natureza física e obedeça-a à risca. 
12º) Não deixe sobras no seu prato. O ato de desperdiçar alimentos indica imprevisão e descontrole de sua parte, além de ser uma afronta aos que ainda se encontram privados de todas as refeições diárias.

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